sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Terceiro mundo, se for piada no exterior...

As duas semanas em Manaus foram interessantes para conhecer um Brasil um pouco diferente, mas chegando em Boa Vista (RR) não pude resistir a fazer um relato das coisas que tenho visto e escutado por aqui.

Conversei com algumas pessoas nesses três dias, desde engenheiros até pessoas com um mínimo de instrução.

Para começar, o mais difícil de encontrar por aqui é roraimense. Pra falar a verdade, acho que a proporção de um roraimense para cada 10 pessoas é bem razoável, tem gaúcho, carioca, cearense, amazonense, piauiense, maranhense e por aí vai. Portanto, falta uma identidade com a terra.
Aqui não existem muitos meios de sobrevivência, ou a pessoa é funcionária pública, (e aqui quase todo mundo é, pois em Boa Vista se concentram todos os órgãos federais e estaduais de Roraima, além da prefeitura é claro) ou a pessoa trabalha no comércio local ou recebe ajuda de Programas do governo.

Não existe indústria de qualquer tipo. Pouco mais de 70% do território roraimense é demarcado como reserva indígena, portanto restam apenas 30%, descontando- se os rios e as terras improdutivas que são muitas, para se cultivar a terra ou para a localização das próprias cidades.

Na única rodovia que existe em direção ao Brasil (liga Boa Vista a Manaus, cerca de 800 km ) existe um trecho de aproximadamente 200 km reserva indígena (Waimiri Atroari) por onde você só passa entre 6:00 da manhã e 6:00 da tarde, nas outras 12 horas a rodovia é fechada pelos índios (com autorização da FUNAI e dos americanos) para que os mesmos não sejam incomodados.

Detalhe: Você não passa se for brasileiro, o acesso é livre aos americanos, europeus e japoneses. Desses 70% de território indígena, diria que em 90% dele ninguém entra sem uma grande burocracia e autorização da FUNAI.

Outro detalhe: americanos entram à hora que quiserem. Se você não tem uma autorização da FUNAI mas tem dos americanos então você pode entrar. A maioria dos índios fala a língua nativa além do inglês ou francês, mas a maioria não sabe falar português. Dizem que é comum na entrada de algumas reservas encontrarem- se hasteadas bandeiras americanas ou inglesas. É comum se encontrar por aqui americano tipo nerd com cara de quem não quer nada, que veio caçar borboleta e joaninha e catalogá-las, mas no final das contas, pasme, se você quiser montar uma empresa para exportar plantas e frutas típicas como cupuaçu, açaí, camu-camu etc., medicinais ou componentes naturais para fabricação de remédios, pode se preparar para pagar 'royalties' para empresas japonesas e americanas que já patentearam a maioria dos produtos típicos da Amazônia...

Por três vezes repeti a seguinte frase após ouvir tais relatos: Os americanos vão acabar tomando a Amazônia. E em todas elas ouvi a mesma resposta em palavras diferentes.. Vou reproduzir a resposta de uma senhora simples que vendia suco e água na rodovia próximo de Mucajaí:
'Irão não minha filha, tu não sabe, mas tudo aqui já é deles, eles comandam tudo, você não entra em lugar nenhum porque eles não deixam. Quando acabar essa guerra aí eles virão pra cá, e vão fazer o que fizeram no Iraque quando determinaram uma faixa para os curdos onde iraquiano não entra, aqui vai ser a mesma coisa'.

A dona é bem informada não? O pior é que segundo a ONU o conceito de nação é um conceito de soberania e as áreas demarcadas têm o nome de nação indígena. O que pode levar os americanos a alegarem que estarão libertando os povos indígenas. Fiquei sabendo que os americanos já estão construindo uma grande base militar na Colômbia, bem próximo da fronteira com o Brasil numa parceria com o governo colombiano com o pseudo
objetivo de combater o narcotráfico. Por falar em narcotráfico, aqui é rota de distribuição, pois essa mãe chamada Brasil mantém suas fronteiras abertas e aqui tem estrada para as Guianas e Venezuela. Nenhuma bagagem de estrangeiro é fiscalizada, principalmente se for americano, europeu ou japonês, (isso pode causar um incidente diplomático). Dizem que tem muito colombiano traficante virando venezuelano, pois na Venezuela é muito fácil comprar a cidadania venezuelana por cerca de 200 dólares.
Pergunto inocentemente às pessoas:  porque os americanos querem tanto proteger os índios ?  A resposta é absolutamente a mesma, porque as terras indígenas além das riquezas animal e vegetal, da abundância de água, são extremamente ricas em ouro - encontram-se pepitas que chegam a ser pesadas em quilos), diamante, outras pedras preciosas, minério e nas reservas norte de Roraima e Amazonas, ricas em PETRÓLEO.

Parece que as pessoas contam essas coisas como que num grito de socorro a alguém que é do sul, como se eu pudesse dizer isso ao presidente ou a  alguma autoridade do sul que vá fazer alguma coisa.
É, pessoal... saio daqui com a quase certeza de que em breve o Brasil irá diminuir de tamanho.
Será que podemos fazer alguma coisa???
Acho que sim.

Mara Silvia Alexandre Costa
Depto de Biologia Cel. Mol. Bioag.Patog. FMRP - USP

domingo, 10 de julho de 2011

Santo Forte, é bom ter um...

Brasil membro permanente do Conselho de Segurança da ONU

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem um papel fundamental nas relações entre países. Mesmo após os sucessivos fracassos na manutenção da paz mundial ocorridos no Oriente Médio e a frequente  desobediência dos Estados Unidos em relação a luta armada, contrária à política pacifista da ONU, fazer parte do Conselho de Segurança ainda é sinônimo de prestígio. Não há como esquecer as grandes conquistas da ONU ao longo da história. Se não fosse ela, os países menores e menos influentes jamais participariam das decisões referentes à segurança internacional e a manutenção efetiva da paz. Cada vez mais os atores não-estatais ganharam reconhecimento e importância na sociedade global, legitimando a democratização do sistema internacional. Watson já defendia que ser membro das Nações Unidas dá aos Estados, por menores que sejam eles, voz e possibilidade de participação na reformulação das regras e das instituições internacionais.
Contudo, é notável que, atualmente, a ONU necessita urgentemente de reformas internas e externas, a fim de manter a paz e a segurança no sistema internacional, impulsionar o desenvolvimento econômico, fortalecer os direitos humanos e apoiar o direito internacional. Caso contrário, nada poderá fazer frente aqueles países como os Estados Unidos e a Inglaterra que já se negaram a cumprir as resoluções do Conselho de Segurança e optaram por investidas armadas devido aos seus fortes poderios militares ao invés de acatar as resoluções pacíficas da organização.
Embora  não tenha obtido êxito na resolução de grandes e sérios problemas de conflitos armados mundiais, a ONU foi o único órgão internacional capaz de evitar muitos deles e dificultar uns outros tantos. Sem mencionar seu papel essencial na consolidação dos Direitos Humanos.
No caso do Brasil, que almeja se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, a presidente Dilma Rousseff não tem medido esforços para alcançar esse objetivo. Durante a recente visita do presidente dos Estados Unidos Barack Obama ao nosso país, a presidente discursou a respeito da reestruturação do Conselho, defendendo a participação brasileira devido às transformações no sistema internacional nos últimos 60 anos. Muitos sustentam que a política e a economia internacionais sofreram grandes mudanças e que os cinco membros permanentes do Conselho não representam o mundo atual de forma efetiva. Até mesmo Obama reconhece o Brasil – que faz parte dos BRICs (bloco de países em desenvolvimento) – como um dos polos de influência global.
A diplomacia brasileira acredita que a sua participação no principal órgão de decisão da ONU lhe asseguraria maior influência nas decisões internacionais. Entretanto, fazer parte do Conselho de Segurança implica comprometimento. Neste sentido, nosso país teria de destinar mais recursos financeiros à instituição. Além disso, existem os gastos com as forças de paz permanentes, que devem estar sempre preparadas para atuar em regiões de conflito.
Com tantas deficiências internas bradando por auxílio, como a saúde pública, educação, segurança interna, entre outras, seria muito mais eficaz e sensato do governo brasileiro resolver seus problemas domésticos antes de tentar se fortalecer no sistema internacional. É fundamental não tentar dar o passo maior que a perna. Mesmo que seja imprescindível a representação dos países emergentes nas instituições internacionais de maior relevância, é preciso saber antes se os mesmos possuem condições estruturais e financeiras para tanto e se realmente vale a pena.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Canção das mulheres

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais. 

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta. 

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor. 

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso. 

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes. 

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais. 

Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida. 

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize. 

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire. 

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso. 

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.



Lya Luft
"Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável." 


(Carlos Drummond de Andrade) 
E tô achando bom, tô repetindo que bom, Deus, que sou capaz de estar vivo sem vampirizar ninguém, que bom que sou forte, que bom que suporto, que bom que sou criativo e até me divirto e descubro a gota de mel no meio do fel. Colei aquele “Eu Amo Você” no espelho. É pra mim mesmo.




(Caio Fernando Abreu)

Que seja doce...


Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante..."

(Caio Fernando Abreu)