quarta-feira, 6 de abril de 2011

Um ofício que fosse de intensidade e calma 
E de um fulgor feliz 

E que durasse com a densidade ardente
E contemporâneo de quem está no elemento aceso 
E é a estatura da água num corpo de alegria 
E que fosse fundo o fervor de ser a metamorfose da matéria 
Que já não se separa da incessante busca 
Que se identifica com a concavidade originária 
Que nos faz andar e estar de pé 
Expostos sempre à única face do mundo 
Que a palavra fosse sempre a travessia 

De um espaço em que ela própria fosse aérea 
Do outro lado de nós e do outro lado de cá 
Tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser 
E já sem distância e não-distância nada a separasse desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios. 

António Ramos Rosa, in "Poemas Inéditos"

Nenhum comentário:

Postar um comentário