sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Terceiro mundo, se for piada no exterior...

As duas semanas em Manaus foram interessantes para conhecer um Brasil um pouco diferente, mas chegando em Boa Vista (RR) não pude resistir a fazer um relato das coisas que tenho visto e escutado por aqui.

Conversei com algumas pessoas nesses três dias, desde engenheiros até pessoas com um mínimo de instrução.

Para começar, o mais difícil de encontrar por aqui é roraimense. Pra falar a verdade, acho que a proporção de um roraimense para cada 10 pessoas é bem razoável, tem gaúcho, carioca, cearense, amazonense, piauiense, maranhense e por aí vai. Portanto, falta uma identidade com a terra.
Aqui não existem muitos meios de sobrevivência, ou a pessoa é funcionária pública, (e aqui quase todo mundo é, pois em Boa Vista se concentram todos os órgãos federais e estaduais de Roraima, além da prefeitura é claro) ou a pessoa trabalha no comércio local ou recebe ajuda de Programas do governo.

Não existe indústria de qualquer tipo. Pouco mais de 70% do território roraimense é demarcado como reserva indígena, portanto restam apenas 30%, descontando- se os rios e as terras improdutivas que são muitas, para se cultivar a terra ou para a localização das próprias cidades.

Na única rodovia que existe em direção ao Brasil (liga Boa Vista a Manaus, cerca de 800 km ) existe um trecho de aproximadamente 200 km reserva indígena (Waimiri Atroari) por onde você só passa entre 6:00 da manhã e 6:00 da tarde, nas outras 12 horas a rodovia é fechada pelos índios (com autorização da FUNAI e dos americanos) para que os mesmos não sejam incomodados.

Detalhe: Você não passa se for brasileiro, o acesso é livre aos americanos, europeus e japoneses. Desses 70% de território indígena, diria que em 90% dele ninguém entra sem uma grande burocracia e autorização da FUNAI.

Outro detalhe: americanos entram à hora que quiserem. Se você não tem uma autorização da FUNAI mas tem dos americanos então você pode entrar. A maioria dos índios fala a língua nativa além do inglês ou francês, mas a maioria não sabe falar português. Dizem que é comum na entrada de algumas reservas encontrarem- se hasteadas bandeiras americanas ou inglesas. É comum se encontrar por aqui americano tipo nerd com cara de quem não quer nada, que veio caçar borboleta e joaninha e catalogá-las, mas no final das contas, pasme, se você quiser montar uma empresa para exportar plantas e frutas típicas como cupuaçu, açaí, camu-camu etc., medicinais ou componentes naturais para fabricação de remédios, pode se preparar para pagar 'royalties' para empresas japonesas e americanas que já patentearam a maioria dos produtos típicos da Amazônia...

Por três vezes repeti a seguinte frase após ouvir tais relatos: Os americanos vão acabar tomando a Amazônia. E em todas elas ouvi a mesma resposta em palavras diferentes.. Vou reproduzir a resposta de uma senhora simples que vendia suco e água na rodovia próximo de Mucajaí:
'Irão não minha filha, tu não sabe, mas tudo aqui já é deles, eles comandam tudo, você não entra em lugar nenhum porque eles não deixam. Quando acabar essa guerra aí eles virão pra cá, e vão fazer o que fizeram no Iraque quando determinaram uma faixa para os curdos onde iraquiano não entra, aqui vai ser a mesma coisa'.

A dona é bem informada não? O pior é que segundo a ONU o conceito de nação é um conceito de soberania e as áreas demarcadas têm o nome de nação indígena. O que pode levar os americanos a alegarem que estarão libertando os povos indígenas. Fiquei sabendo que os americanos já estão construindo uma grande base militar na Colômbia, bem próximo da fronteira com o Brasil numa parceria com o governo colombiano com o pseudo
objetivo de combater o narcotráfico. Por falar em narcotráfico, aqui é rota de distribuição, pois essa mãe chamada Brasil mantém suas fronteiras abertas e aqui tem estrada para as Guianas e Venezuela. Nenhuma bagagem de estrangeiro é fiscalizada, principalmente se for americano, europeu ou japonês, (isso pode causar um incidente diplomático). Dizem que tem muito colombiano traficante virando venezuelano, pois na Venezuela é muito fácil comprar a cidadania venezuelana por cerca de 200 dólares.
Pergunto inocentemente às pessoas:  porque os americanos querem tanto proteger os índios ?  A resposta é absolutamente a mesma, porque as terras indígenas além das riquezas animal e vegetal, da abundância de água, são extremamente ricas em ouro - encontram-se pepitas que chegam a ser pesadas em quilos), diamante, outras pedras preciosas, minério e nas reservas norte de Roraima e Amazonas, ricas em PETRÓLEO.

Parece que as pessoas contam essas coisas como que num grito de socorro a alguém que é do sul, como se eu pudesse dizer isso ao presidente ou a  alguma autoridade do sul que vá fazer alguma coisa.
É, pessoal... saio daqui com a quase certeza de que em breve o Brasil irá diminuir de tamanho.
Será que podemos fazer alguma coisa???
Acho que sim.

Mara Silvia Alexandre Costa
Depto de Biologia Cel. Mol. Bioag.Patog. FMRP - USP

domingo, 10 de julho de 2011

Santo Forte, é bom ter um...

Brasil membro permanente do Conselho de Segurança da ONU

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem um papel fundamental nas relações entre países. Mesmo após os sucessivos fracassos na manutenção da paz mundial ocorridos no Oriente Médio e a frequente  desobediência dos Estados Unidos em relação a luta armada, contrária à política pacifista da ONU, fazer parte do Conselho de Segurança ainda é sinônimo de prestígio. Não há como esquecer as grandes conquistas da ONU ao longo da história. Se não fosse ela, os países menores e menos influentes jamais participariam das decisões referentes à segurança internacional e a manutenção efetiva da paz. Cada vez mais os atores não-estatais ganharam reconhecimento e importância na sociedade global, legitimando a democratização do sistema internacional. Watson já defendia que ser membro das Nações Unidas dá aos Estados, por menores que sejam eles, voz e possibilidade de participação na reformulação das regras e das instituições internacionais.
Contudo, é notável que, atualmente, a ONU necessita urgentemente de reformas internas e externas, a fim de manter a paz e a segurança no sistema internacional, impulsionar o desenvolvimento econômico, fortalecer os direitos humanos e apoiar o direito internacional. Caso contrário, nada poderá fazer frente aqueles países como os Estados Unidos e a Inglaterra que já se negaram a cumprir as resoluções do Conselho de Segurança e optaram por investidas armadas devido aos seus fortes poderios militares ao invés de acatar as resoluções pacíficas da organização.
Embora  não tenha obtido êxito na resolução de grandes e sérios problemas de conflitos armados mundiais, a ONU foi o único órgão internacional capaz de evitar muitos deles e dificultar uns outros tantos. Sem mencionar seu papel essencial na consolidação dos Direitos Humanos.
No caso do Brasil, que almeja se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, a presidente Dilma Rousseff não tem medido esforços para alcançar esse objetivo. Durante a recente visita do presidente dos Estados Unidos Barack Obama ao nosso país, a presidente discursou a respeito da reestruturação do Conselho, defendendo a participação brasileira devido às transformações no sistema internacional nos últimos 60 anos. Muitos sustentam que a política e a economia internacionais sofreram grandes mudanças e que os cinco membros permanentes do Conselho não representam o mundo atual de forma efetiva. Até mesmo Obama reconhece o Brasil – que faz parte dos BRICs (bloco de países em desenvolvimento) – como um dos polos de influência global.
A diplomacia brasileira acredita que a sua participação no principal órgão de decisão da ONU lhe asseguraria maior influência nas decisões internacionais. Entretanto, fazer parte do Conselho de Segurança implica comprometimento. Neste sentido, nosso país teria de destinar mais recursos financeiros à instituição. Além disso, existem os gastos com as forças de paz permanentes, que devem estar sempre preparadas para atuar em regiões de conflito.
Com tantas deficiências internas bradando por auxílio, como a saúde pública, educação, segurança interna, entre outras, seria muito mais eficaz e sensato do governo brasileiro resolver seus problemas domésticos antes de tentar se fortalecer no sistema internacional. É fundamental não tentar dar o passo maior que a perna. Mesmo que seja imprescindível a representação dos países emergentes nas instituições internacionais de maior relevância, é preciso saber antes se os mesmos possuem condições estruturais e financeiras para tanto e se realmente vale a pena.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Canção das mulheres

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais. 

Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta. 

Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor. 

Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso. 

Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes. 

Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais. 

Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida. 

Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''

Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize. 

Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire. 

Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso. 

Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.



Lya Luft
"Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável." 


(Carlos Drummond de Andrade) 
E tô achando bom, tô repetindo que bom, Deus, que sou capaz de estar vivo sem vampirizar ninguém, que bom que sou forte, que bom que suporto, que bom que sou criativo e até me divirto e descubro a gota de mel no meio do fel. Colei aquele “Eu Amo Você” no espelho. É pra mim mesmo.




(Caio Fernando Abreu)

Que seja doce...


Então, que seja doce. Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol, esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante..."

(Caio Fernando Abreu)

sábado, 16 de abril de 2011

RELACIONAMENTOS

Sempre acho que namoro, casamento, romance, tem começo, meio e fim. Como tudo na vida.

Detesto quando escuto aquela conversa:
- Ah, terminei o namoro...
- Nossa, estavam juntos há tanto tempo...
- Cinco anos.... que pena... acabou...
- é... não deu certo...

Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou. E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

Não acredito em pessoas que se complementam. Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos essa coisa completa.

Às vezes ela é fiel, mas é devagar na cama.
Às vezes ele é carinhoso, mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso, mas não é trabalhador.
Às vezes ela é muito bonita, mas não é sensível.
Tudo junto, não vamos encontrar.

Perceba qual o aspecto mais importante para você e invista nele.
Pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia.

E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante... e se o beijo bate... se joga... se não bate... mais um Martini, por favor... e vá dar uma volta.

Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer.

Não brigue, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar... ou não.

Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.
O ser humano não é absoluto.

Ele titubeia, tem dúvidas e medos, mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta. Nada de drama.
Que graça tem alguém do seu lado sob pressão?

O legal é alguém que está com você, só por você. E vice-versa. Não fique com alguém por pena. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós.

Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.

Tem gente que pula de um romance para o outro. Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói. Muitas vezes você vai sentir raiva, ciúmes, ódio, frustração... Faz parte. Você convive com outro ser, um outro mundo, um outro universo.

E nem sempre as coisas são como você gostaria que fosse... A pior coisa é gente que tem medo de se envolver.

Se alguém vier com este papo, corra, afinal você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.

Na vida e no amor, não temos garantias.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar. Nem todo beijo é para romancear.
E nem todo sexo bom é para descartar... ou se apaixonar... ou se culpar...

Enfim...quem disse que ser adulto é fácil ????

Arnaldo Jabor

Isso é ser gaúcho!

 Que tal... 
 

O gaúcho andava a cavalo pelas florestas africanas quando, de repente, entra em uma clareira e se depara com um enorme leão faminto. 
 
O cavalo (que não devia ser crioulo) se assusta com a presença do enorme felino e começa a refugar, até que dá uma empinada derrubando o gaúcho no chão e em seguida foge em disparada deixando o gaudério sozinho atirado a própria sorte. 
 
O gaúcho começa a bater a poeira devagarito, e vê que o bichano vem lentamente em sua direção já afiando os dentes. 
 
Então, antes de agir, faz uma pequena oração: 
 
- Tchê, Deus!!! Se o senhor está torcendo por mim, faça com que eu puxe agora essa minha adaga da bota, atire-a em direção do leão de maneira certeira, fazendo com que atinja o meio da cabeça dele e seja mortal.  



Mas tchê, Deus, se o senhor tiver torcendo pelo leão, que o bicho dê um pulo certeiro, mordendo diretamente minha jugular, e que eu morra na hora, sem sofrimento, nem dor. 


Agora, Tchê, Deus, se o senhor não estiver torcendo pra ninguém, pega uma pipoquinha e uma Polar, senta ali naquela pedra, e assista uma das maiores peleias que já se sucederam por essas bandas.  
 
Porque eu vou 'di-mu-li' esse bichinho a pau!!!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Filho duma puta‏

Iniciar um texto com um palavrão é esquisito pra caramba. Mas não encontrei jeito melhor de falar do terrível episódio que levou ao sujeito chamado Wellington Menezes de Oliveira, que, a troco de sua demência, de um surto paranóide ou patologia que o valha, disparou contra meninas tiros que foram fatais para doze das crianças alvejadas. Outras ainda estão feridas, algumas em estado bastante grave. Um sargento da PM o alvejou, certamente no intuito de neutralizar o celerado e levar à justiça o injustificável. Porém, a covardia falou mais alto, e o último alvo do sr. Wellington foi sua própria cabeça.

Como todo doido que se preza, o sujeito aí deixou um bilhete de despedida. Um bilhete em que ele tenta justificar o injustificável, entre delírios envolvendo religiosidade fundamentalista, um severo caso de aversão à sexualidade que o leva a considerar "impuros" os "fornicadores" (sempre lembro aos meus alunos de anatomia que o fórnice é o fundo da vagina, daí o nome dado a quem pratica o bom e velho sexo) e um gesto de apego aos animais. Em meio à maré de pânico, um atirador que sorria ao matar suas vítimas, ao melhor estilo do Coringa, Duende Verde e outros doidos que, até agora, pareciam restritos a páginas de gibi ou ao cinema. Infelizmente, Bob Kane e Stan Lee foram imitados pela realidade, a custo de vidas de brasileirinhos, como diria a dona Dilma.

Wellington pediu bom senso para as pessoas, ao solicitar que a casa onde morou nos seus últimos meses fosse doada a "pessoas generosas que cuidam de animais abandonados". Ainda no texto, o mesmo despeja uma verborrágica série de expressões, ao pedir bom senso às pessoas, como justificativa da doação da casa. Segundo ele, não doar a casa a uma ONG de cuidado com animais seria desrespeitar os pais dele. Como se um ataque insano a meninas e meninos fosse algo para reverenciar à memória paterna. Como se houvesse justificativa no ceifar sorridente de vidas de crianças.

E ainda tem a questão da pureza. Que pessoas não puras não poderiam tocar seu corpo imaculado. Que sua alardeada virgindade seria passaporte para o perdão de Cristo. Ora, o moço esqueceu de falar que Cristo amava pessoas sem distinguir virgens de meretrizes. Uma mulher "impura" lavou os pés Dele. Uma samaritana protagonizou a bela cena da fonte, onde Ele afirmava de que "se beber da água que lhe der, jamais terá sede...". Mais uma vez, um demente utiliza o Santo Nome em vão, tentando justificar a barbárie e as mortes.

O fato relatado pelas crianças de que ele atirava "nas meninas para matar, e nos meninos para machucar" indica um forte traço misógino. Talvez a rejeição da mãe biológica explique o traço de aversão ao feminino. Quem sabe um traço homossexual reprimido pelo fervor religioso fundamentalista. O que sabemos é que o infeliz matou sorrindo meninas. Imagino a dopamina percorrendo seu cérebro, freneticamente nas sinapses. Um frenesi digno de tubarões saboreando sangue na água. O louco em êxtase religioso e, porque não dizer, carnal, tendo seu macabro prazer de "justiçar" àquelas "impuras". Novamente, a aversão ao sexo, e em especial seu caráter misógino, espantam qualquer pessoa de bom senso e de bom caráter.

Mortos. Crianças mortas, vidas interrompidas, sonhos sepultados. Um maníaco fugiu da justiça pela forma mais covarde, roubando ao sargento Alves o direito de levá-lo à prisão, a julgamento e a uma cela. A morte foi um prêmio para a vida de Wellington. Não sou a favor da pena de morte. Ainda acredito que o ser humano pode se reabilitar. Contudo, mesmo meus sentimentos mais otimistas pela Humanidade vão por terra ao lembrar que doze vidinhas não terão a alegria de um diploma de conclusão de curso, não verão um filho nascer, não conhecerão a lenta e sábia história do envelhecimento. E, nessas horas, uma onda de raiva me faz pensar...e se o sargento tivesse fulminado aquele doente...será que o sentimento da sociedade não teria sido amenizado? Ficam as perguntas eternamente sem resposta.

Carlos Augusto Normann
Pois o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e torná-lo humano por sua confrontação descarnada com a realidade. 
Ninguém que não a tenha sofrido por imaginar essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida.
Ninguém que não a tenha vivido pode conceber, sequer, o que é essa palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo das primícias, a demolição moral do fracasso. 
Ninguém que não tenha nascido pra isso e esteja disposto a viver só para isso poderá persistir num ofício tão incompreensível e voraz, cuja obra se acaba depois de cada notícia como se fora para sempre, mas que não permite um instante de paz enquanto não se recomeça com mais ardor do que nunca no 
minuto seguinte. 


José Saramago


Hoje, 07 de abril, é Dia do Jornalista.


Parabéns, queridos colegas, e que todos nós continuemos sempre sendo a voz do povo, da informação, das denúncias, da democracia. 

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Um ofício que fosse de intensidade e calma 
E de um fulgor feliz 

E que durasse com a densidade ardente
E contemporâneo de quem está no elemento aceso 
E é a estatura da água num corpo de alegria 
E que fosse fundo o fervor de ser a metamorfose da matéria 
Que já não se separa da incessante busca 
Que se identifica com a concavidade originária 
Que nos faz andar e estar de pé 
Expostos sempre à única face do mundo 
Que a palavra fosse sempre a travessia 

De um espaço em que ela própria fosse aérea 
Do outro lado de nós e do outro lado de cá 
Tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser 
E já sem distância e não-distância nada a separasse desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios. 

António Ramos Rosa, in "Poemas Inéditos"

Poesia da Felicidade

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. 
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. 
Se achar que precisa voltar, volte! 
Se perceber que precisa seguir, siga! 
Se estiver tudo errado, comece novamente. 
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a. 
Se perder um amor, não se perca! 
Se o achar, segure-o! 
  
FERNANDO PESSOA

El Cholo Loco

quarta-feira, 30 de março de 2011

Hoje é dia de Maria.

O Brasil, país paternalista, preconceituoso e machista, deu a vitória do BBB11 pra “pirguete” do programa. Mas será só essa definição de Maria? Pois eu acho que não. Maria é muito mais que isso.
Apenas algumas informações de relevância. Primeiro, apaixonou-se pelo coisa-mais-feia Maumau. Assim que ele saiu da casa, Maria já engatava um affair com o médico-gatésimo Wesley. Jamais imaginava que o Sid da Era do Gelo (Maumau) retornaria para atormentar seus pensamentos. Ficou tão mexida a bichinha, que bebeu até cair e saiu pagando calcinha em rede nacional. Foi rejeitada pelo moço, depois dele ficar sabendo, quando esteve fora da casa, da possibilidade dela já ter praticado a profissão mais antiga do mundo.
Maria foi rejeitada, sofreu, arrastou corrente, perdeu a noção, o foco, o equilíbrio, a compostura, o respeito. Fez tudo o que qualquer uma de nós, mulheres, diria em alto e bom tom “EU JAMAIS FARIA”. Mentira. Todas nós, pelo menos uma vez na vida, já “mariamos” por amor. Quem nunca afogou as mágoas e a dignidade em copos e copos de vodca com energético ou chorou horas a fio ouvindo Nando Reis?
Maria é o nosso lado mundano, aquele que a gente procura manter bem escondidinho. É a loba que ataca sua presa, louca, tarada, apaixonada, doente, maníaca. É a representação perfeita da mulher que já perdeu a cabeça por um homem.
Quando amamos e não somos amadas, ligamos bêbadas na madrugada, amaldiçoamos até a décima quinta geração do safado que entrou com o pé e a  gente com o traseiro, ficamos com algum amigo dele, surtamos, ofendemos, gritamos. Maria representa nossa insanidade. São as lágrimas de tristeza por estarmos sozinhas, o MSN quando estamos de porre, nossos fiascos, nossas dores, nossos amores.
Maria sou eu de rímel borrado de tanto chorar por um amor perdido. É minha amiga que brigou com o namorado e sofre calada. É você que mandou 53 mensagens para o seu ex ontem, bêbada e furiosa porque ele não estava do seu lado. É sua prima que corre atrás de um cara que não quer nem saber dela. É a sua vizinha que quer namorar aquele que já tem uma namorada. É a outra que destrói casamentos.
Entretanto, Maria também é você apaixonada, mimando seu amor com afagos e beijinhos. Sou eu boba a admirar meu gato falando sobre a vida. É a sua irmã que cozinha carinhosamente para esperar o marido. É aquela que lê a NOVA buscando ‘38 formas de manter seu casamento feliz’. Maria é coração! Apega-se intensamente, ilude-se, sonha, deseja, busca, age. Maria não pensa antes de falar. Ela faz. Maria é impulso, calor, atitude, coragem. É a completa falta de medo de se despir da moralidade por causa de um homem.
Afinal, quantas mulheres teriam coragem de mostrar e dor da rejeição para milhões de brasileiros? O Brasil deu o Big Brother àquela que pertenceu a dois homens em uma única edição de um programa, que bebeu até despencar do salto, que chorou e rastejou aos pés de um amor que a rejeitou e a humilhou até o último instante. Será um indício de mudança comportamental? Queda de pré-conceitos?
Sinceramente, eu espero eu sim.



segunda-feira, 28 de março de 2011

Chega de adiar - acorde

Prepare-se para o dia — o amanhecer bateu à sua porta. Saia desse sono, não se esconda debaixo do cobertor, por mais aconchegante que seja e por mais que sua mente diga: "Fique mais um pouquinho, só mais alguns minutos".

Não dê atenção à mente, pois esses minutos nunca terminarão, e a mente está sempre adiando. Ela quer que você continue dormindo, porque a mente só pode existir quando você dorme. 

Quando você desperta, a mente desaparece, assim como os sonhos desaparecem quando você acorda. A mente é um fenômeno onírico, constituído da mesma matéria dos sonhos. Por isso, chega de adiar — acorde.



Osho, em "Meditações Para o Dia"

segunda-feira, 14 de março de 2011

Dia Nacional da Poesia

O Dia Nacional da Poesia é no dia do nascimento de Castro Alves. Poeta baiano do Romantismo, escreveu belíssimos poemas como o espetacular Navio Negreiro. Defensor ferrenho da justiça social, o nosso condoreiro, que mesclava linguagem épica e lírica com perfeição, é mais do que digno dessa homenagem.

Mas afinal, o que é poesia? Para alguns, é a arte literária de recriar a realidade.  Para outros, como é o caso de Aristóteles, “a arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra”.

Seja declamada, seja escrita, a poesia expressa uma espécie de combinação personalizada de palavras, onde os significados destas se permutam através de idéias e mensagens a serem transmitidas. Sob a influência da fase histórica e pessoal de cada autor, os diversos estilos poéticos se fundem e dão formas novas e esse estilo literário tão admirado mundo afora.


MAL SECRETO

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

(Raimundo Correia)


sábado, 5 de março de 2011

Marchinhas jornalísticas de carnaval

POR DUDA RANGEL

Me dá um frila aí (versão de Me dá um dinheiro aí)

Ei, você aí, me dá um frila aí
Me dá um frila aí
Ei, você aí, me dá um frila aí
Me dá um frila aí.

Não vai dar?
Não vai dar, não?
Vou te ligar e ir à redação
Te enlouquecer de tanto insistir
Me dá, me dá, me dá (oi)
Me dá um frila aí.


A audiência do jornal (versão de A pipa do vovô)

A audiência do jornal não sobe mais
A audiência do jornal não sobe mais
Apesar de explorar só desgraça
O jornal já perdeu o seu gás.

Ele tentou uma chacinazinha
O Ibope não deu nenhuma subidinha
Ele tentou mais uma enchentezinha
O Ibope não deu nenhuma subidinha.


Passaralho (versão de Saca-rolha)

Cabeças vão rolar
Um pé na bunda eu não quero é levar
É o passa-passa-passa-passa-passaralho
Vamos saber quem vai sobrar!


Imprensa não é livre (versão de Cachaça não é água)

Você pensa que a imprensa é livre?
Imprensa não é livre, não.
Ser livre é falar verdades
Sem medo de uma demissão.


Ô, produtor (versão de Allah-lá-ô)

Ô, produtor, ô ô ô ô ô ô
Tu demorô, ô ô ô ô ô ô
Pra agendar a entrevista que me falta
A rival foi mais esperta
E furou a nossa pauta.


Pauteira (versão de Jardineira)
- Minha pauteira, por que estás tão triste?
Mas que tragédia não aconteceu?
- Não teve enchente, nem caiu barraco
Nenhum incêndio e ninguém morreu.


Nenhum riso (versão de Máscara negra)

Nenhum riso, ó, nem alegria
Mais de dez palhaços de plantão
Todo mundo festejando o carnaval na avenida
E a gente na redação.


Salário do Zezé (versão de Cabeleira do Zezé)

Olha o salário do Zezé!
Será que ele é?!
Será que ele é?! (jor-na-lis-ta)
Olha o salário do Zezé!
Será que ele é?!
Será que ele é?!

Será que ele ganha o piso?
Será que ele é muito ralé?
Parece repórter de rádio
Mas isso eu não sei se ele é.

Melhora o salário dele! (pã pã)
Melhora o salário dele! (pã pã)

Melhora o salário dele! (pã pã)
Melhora o salário dele!


quinta-feira, 3 de março de 2011

Coisas não ditas. 
Algumas não vividas.
Talvez medo, incerteza, insegurança...
Esperando sempre a oportunidade de nos vermos e,
apesar de não dizermos, sabemos o que sentimos: saudade. 
De algo que faltou viver. 
Pode estar tudo resolvido (por assim se dizer) mas sempre fica a dúvida do " e se?"...
Mágoa: nunca! 
Simplesmente vontade. 
Mas na vida é assim: cada um segue o seu caminho. 
Sendo felizes é o importa!


(Texto de Ge De Nardi)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Quando não se pode amar...

A: Tu ainda gostas dele?
B: Gostar? Eu o amo como nunca deixei de amar. É nele meu primeiro pensamento ao acordar. É com ele que quero sonhar quando em minha cama deitar. É o nome dele que me vem à mente quando penso em amor verdadeiro. É ao lado dele que quero envelhecer de mãos dadas, arrastando nossos chinelos. É do calor dele que preciso todo dia. É o corpo dele que no meu encaixa com perfeição. É do sorriso dele que lembro quando me sinto só. São por ele todas as minhas lágrimas de saudade. É ele que quero a todo momento sem descansar. É o cheiro dele que me atormenta pelo ar. É ele que desejo com urgência. Não, não gosto. Pra falar a verdade, nem lembro que ele existe.




segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

As águas de março...


E o verão vai chegando ao seu final, ainda bem. Desculpem-me aqueles que veneram a estação mais quente do ano, mas eu, particularmente, detesto esse calor. Entre tantos motivos, considero o verão brega. É isso mesmo, brega pra caramba. As pessoas ficam suadas, a pele e o cabelo viram umas nhacas, as roupas ficam molhadas,  os odores se propagam como pragas e não há maquiagem que aguente.  Nós mulheres passamos horas arrumando o cabelo, escolhendo cor de sombra, pó, blush e batom para tudo derreter assim que desligamos o ventilador. Ninguém merece! Sair do banho cheirosinha e limpinha para em cinco segundos começar a grudar de suor acaba com qualquer bom humor.

E o mal-estar?  As altas temperaturas castigam o organismo. A pressão desce ou sobe demais, o corpo incha ou desidrata, a pele resseca ou vira uma oleosidade só, tudo é extremo. Quem vai ao trabalho a pé, sofre pelo sol escaldante. Quem usa transporte público, pena com os odores alheios. Quem tem carro com ar-condicionado que jogue as mãos para o céu, caso contrário, derreta no Inferno de Dante como todos os mortais, pois até o vento é um bafão desgraçado. Falando nisso, torna-se suicídio qualquer tentativa de fazer programas ao ar livre, a não ser ir à praia. Caminhar no parque com os termômetros marcando 38° à sombra não é nada agradável.

“São as águas de março fechando o verão,
É a promessa de vida no teu coração”


Mas, com a chegada de março e suas famosas chuvas de fim de verão, vem o outono, uma estação charmosa, que prenuncia a época mais elegante de todas: o inverno. O inverno é romântico, aconchegante, chique, sóbrio, sereno. Todos ficam mais calmos, menos aflitos, mais bonitos. Parece que a paz reina dentro dos corações humanos.  Paira uma delicadeza no ar. O sol aquece, não escalda.  Os contatos físicos são mais agradáveis. As roupas são mais belas. Amo inverno!

Abrir um vinho em frente à lareira e jogar conversa fora é uma delícia de programa. Ver filme embaixo das cobertas. Cozinhar carinhosamente em frente ao fogão quentinho. Sair do banho e manter-se cheirosa, depois ficar horas  embelezando-se para sair de casa. Chegar divina na festa, com cabelo e maquiagem intactos! Não tem preço.


Inverno


É lindo o amanhecer nublado
As copas das árvores envergadas
O asfalto molhado derrapado
Vidraças embaçadas orvalhadas
A quietude nos olhares
O sossego das ruas descalça
A paz do espírito no ar
A saudade em todo lugar
O sol louco pra brilhar
A palidez da tez
O dia cinza apagado
O enlaço dos enamorados
A preguiça do despertar
O amor aconchegar
O tempo assim passar...


(Jamaveira)